sábado, 16 de julho de 2011

Dias 13, 14 e 15 - Viena

Quando abri os olhos percebi que já era manhã. Da minha cama conseguia escutar que no corredor um italiano tagarela falava bem alto (provavelmente a causa de eu ter acordado). Ainda tentei pegar no sono novamente, mas era inutil.

Levantei e fui pro corredor observar a paisagem e procurar a Julie Delpy, como no filme. Mas obviamente ela não estava no trem... Humpf!. A vida às vezes podia ser mais parecida com o cinema...

Mais uma vez eu estava diante de um país totalmente novo, e isso ficava bem claro na arquitetura das casinhas à beira da linha do trem e dos dezenas de moinhos (ou cataventos, sei lá o nome daquilo) que havia pelo caminho.


Aqueles rolos de feno engraçados
Os cataventos lá no fundo...

Não sabia que Bauhaus era isso...

Enquanto eu apreciava a paisagem, o trem chegou em Viena. A estação fica meio longe do centro da cidade, mas é do lado do metrô. Tudo o que eu tinha que fazer era comprar um bilhete, pegar o metrô, descer na estação certa e fazer a baldeação rumo ao centro. Fácíl, correto?

Nem um pouco!


Cheguei são e salvo

Claro que chegar a um país novo sempre é uma delícia, mas havia o detalhe irrelevante de que eu estava num país novo cuja língua eu não entendo patavinas. Dei trocentas voltas pelo metrô tentando entender onde vendia o bilhete. Nenhum letreiro que eu lia parecia fazer sentido. Fiquei observando as pessoas que entravam na estação pra ver se alguma ia comprar o bilhete, mas não deu muito resultado.

Por fim avistei uma máquina que supus ser pra vender bilhetes. Fucei nela sem entender nada do que eu estava fazendo até que finalmente vi a salvadora opção de mudar a linguagem para "inglês"
Mas meus problemas não acabaram aí, a maquininha sacana oferecia trocentas opções de bilhetes. Como eles pensam que eu poderia saber que diacho de bilhete preciso comprar?? Escolhi aquele que parecia mais bonito e fui pro trem.
Como em quase todos os lugares que fui na Europa, não havia catraca. Era dentro do trem que o moço vem conferir o bilhete. Para evitar problelmas me antecipei e fui procurar o inspetor pra perguntar se eu tava com o bilhete certo pra ir pro centro. Ele fez positivo com a cabeça e finalmente pude relaxar um pouco.
Meu relaxamento durou cinco segundos, até eu lembrar que tinha que saber a estação certa pra fazer a baldeação.
Ainda no Brasil eu já tinha feito o roteiro bem bonitinho explicando como chegar ao centro. "É só seguir o que escrevi lá que vai dar tudo certo ^^", pensei.
O que estava escrito no meu roteiro é o seguinte "Pegar metrô U6 no sentido Florisdorf na estação Philadelphiabrücke. Descer na segunda parada (Langerfeld-gasse) e trocar pro metro U4 no sentido Heiligenstadt. Depois é só descer na Schwadenplat.

WTF! Philadelphiabrück?????  Langerfeld-gasse????? Claro que o nome dessas estações não fazem o menor sentido e eu não consegui decorar nenhum. Cada estação que passava eu ficava conferindo o nome com o do roteiro pra ver se era a certa.
Pois bem, eu tinha que descer na segunda estação, dizia o roteiro. Já estava lá pela sexta e absolutamente nenhum nome coincidia com o que estava escrito.

"Me perdi de novo", pensei. "E o pior, agora não tenho roteiro nenhum pra me levar de volta pro caminho certo". Fiquei tentando me convencer a descer em alguma estação e pegar o trem de volta pra refazer o caminho. Mas não fazia sentido. Eu prestei bem atenção nos nomes e nenhuma estação era a que eu tinha que descer. Era óbvio que o roteiro tava errado. E nisso o trem seguia seu caminho rumo ao não sei onde
.
Até que, para meu total e completo espanto o trem chegou em uma estação chamada "Schwadenplat". Sim, Schwadenplat! Exatamente a estação que deveria ser meu destino final caso eu tivesse seguido o roteiro. Sinceramente até hoje não consegui entender o sentido daquilo. Eu tinha feito a rota seguindo o mapa do metrô de Viena, simplesmente não havia trem direto para a estação que eu queria. De todo jeito que eu montava o roteiro eu TINHA que fazer a baldeação. Mas enfim, de vez em quando a sorte sorri até pra mim =)

E o mais importante de tudo: em Viena as pessoas deixam o lado esquerdo da escada rolante livre pra quem tá com pressa! É realmente a cidade dos sonhos...
Depois de tantas aventuras no metrô, fui deixar as malas no hotel para poder caminhar pela cidade.
Viena é um dos lugares com melhor qualidade de vida da Europa. A cidade é linda, plana, limpa, repleta de parques e áreas verdes. Muito, muito agradável pra camnhar tanto de dia quanto à noite.


Logo que saí do metrô, à beira do canal do Danúbio

O canal à noite, com um barzinho ali no navio
Fim de tarde estirado na graminha =)

Meu primeiro destino foi a catedral, um dos marcos da cidade. Depois fui até um museu em homenagem ao Mozart. Eles fizeram o museu na casa onde o compositor morou e compôs vária de suas obras. É absolutamente sensacional olhar pelas janelas daquela casa e ter a mesma vista que Mozart tinha quando morava ali.

A catedral

Entrada da casa do Mozart, num dos corredores vienenses

A vista que ele tinha da janela


E por falar em Mozart, a cidade tem verdadeira devoção pelos compositores que moraram ali, como Strauss. Só que isso tem um lado brega, por todo canto de Viena existem pessoas vestidas de Mozart tentando vender ingressos para concertos de turistas. Esses concertos nada mais são do que uma espécie de "greatest hits" dos compositores famosos da cidade.

Comprar ingressos com esses caras é um caso a parte. Cheguei até um deles e perguntei quanto custavam. "É tal valor", respondeu (não lembro mais qual era). Agradeci e já ia me virar pra ir embora quando ele me perguntou: "você é estudante??? estudante paga metade!!!" "Não, não sou estudante".  "não tem problema! É só falar que é estudante que eu te dou o desconto, ninguém vai te pedir nada na hora de entrar".

É o tal do "jeitinho vienense"

Um dos integrantes do exército de Mozart e o famoso "jeitinho vienense"

Recusei a oferta do cara, mas acabei indo em um dos concertos. Ainda que os músicos sejam muito bons, é uma experiência só pra turista mesmo. Primeiramente pelo fato de sempre tocarem as mesmas composições. Segundo, lá dentro é permitido tirar foto, gravar, enfim, fazer o diabo. Algo que não é muito comum numa sala de concerto.

Os músicos

Foi uma pena muito grande o fato de eu ter ido pra Viena exatamente durante as férias da Orquestra Filarmônica da cidade.

Bom, pelo menos ainda tenho uma desculpa pra voltar pra lá =)

Durante minha estada em VIena também fui até o Palácio de Schönbrunn, um complexo onde morava a gente graúda da Áustria antiga. Mas a parte mais terrível desse complexo é o labirinto que existe em seus jardins.

O palácio

A entrada do labirinto. Moleza...


Todo mundo sabe da minha incrível habilidade em me perder. Pois bem, todo mundo sabe disso, menos eu. Avistei a entrada do labirinto e falei pra mim mesmo "bah, esse troço vai ser moleza, em dois minutos acho a saída". Duas horas depois eu ainda estava lá preso, tomado por total desespero e já imaginando que ia passar a noite ali...

Os corredores intermináveis do labirinto

Lá de cima a galera rindo do povo perdido no meio do mato

Uma outra coisa muita estranha aconteceu durante a madrugada, no hotel. Eu tenho o costume de ficar sintonizando rádios das cidades por onde passo. Em Viena acabei achando uma que ficava tocando músicas brasileiras.

Só que eram músicas que eu nunca tinha ouvido na vida... corri pro google e fiquei procurando trechos delas pra saber do que se tratava... e o mais assustador é que não existiam... tocou várias músicas na rádio... e absolutamente nenhuma delas eu achei no google...  taí um fato que jamais conseguirei explicar...


Teve muita coisa legal e foram dias bem divertidos, mas nada disso me marcou tanto quanto um fato bem pitoresco que vivi em Viena.

Era minha útima noite na cidade, eu tinha acabado de sair do concerto e caminhava pelo centro rumo ao meu hotel.
Passei por uma barraquinha de cachorro-quente, dessas que vendem umas salsichas enormes, que a gente está acostumado a associar com a Alemanha. Pedi o meu lanche e resolvi comer por ali mesmo. Lá pela terceira mordida se aproximou de mim um senhor, aparentendo uns 80 anos. Imaginei que ele fosse um pedinte, mas só tive certeza quando ele estendeu pra mim a mão com a palma aberta voltada pra cima, no gesto universal de quem pede algo.

Eu nunca havia dado nenhuma esmola durante toda a viagem, mas naquele momento fiquei comovido com o olhar daquele senhor. Por isso enfiei a mão no bolso, saquei umas moedinhas e entreguei pra ele.

Achei que ele fosse simplesmente agradecer e ir embora, mas em vez disso, pôs a mão no meu braço e começou a falar. Falava de modo firme e pausado, sempre olhando nos olhos e sacudindo levemente o meu braço vez ou outra. Obviamente eu não entendia uma palavra do que aquele homem dizia, mas ele falava com tanta convicção e certeza que eu comecei a me desesperar. Eu queria de toda forma saber do que se tratava. Que mensagem tão importante era aquela que trazia ao semblante daquele homem uma clara imagem de quem conhecia muito bem a vida e sabia exatamente do que estava falando.

Por fim ele terminou de falar, fez um gesto de agradecimento com a cabeça e foi embora.

E a curiosidade por entender o que ele me dizia permanece até hoje. Talvez estivesse apenas me desejando coisas boas... ou falando dos erros que já cometeu na vida, de seus arrependimentos, do tempo que nunca mais voltar... e me aconselhando a não estragar tudo... Ou quem sabe estava me contando o segredo da vida.

Bom, seja lá o que for, o conteúdo daquele monólogo é algo nunca, nunca saberei =(


O QUE MAIS FIZ EM VIENA



Não podia ir a Vena e não comer o Wiener Schnitzel, o prato mais típico e turístico da cidade...

.... que emendei com uma torta de chocolate com sorvete


Também fui no Kunsthistorisches, onde pude colocar mais um Caravaggio na minha coleção


Rafael


A roda gigante, um dos símbolos de Viena... e mais uma vez a Julie Delpy não tava lá =(


Aqui foi onde assisti a uma apresentação de música grátis... não falo uma palavra de alemão... mas pelo menos "gratis" é igual ao português =)

Traumas de um país


Uma igreja da opus dei, com um esqueleto naquele esquife e a foto do Josemaria Escrivá em cima... pensei que era o esqueleto do cara, mas depois descobri na internet que não é


Mais de perto dá pra ver que ele é todo cravejado de brilhantes


Se eu fosse nerd com certeza me divertiria muito nessa loja...


Crânio do T-Rex, no museu de história natural


Outro foto do labirinto, agora tirada do local onde as pessoas riem dos coitados que tão lá perdidos



Mais fotinhas da cidade à noite







E de dia

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