terça-feira, 19 de outubro de 2010

Dia 9 - Bolonha

Vou segredar algo aqui pra vocês: eu só incluí Bolonha no roteiro com um simples objetivo: poder ir até Maranello, a casa da Ferrari. Só que Maranello é uma cidade microscópica, cuja única razão de existência é a Ferrari. Portanto eu tinha que me hospedar em uma cidade próxima. Bolonha, no caso.

Só que mesmo estando perto de Maranello, não consegui descobrir nenhum jeito de ir direto. Primeiro eu precisa ir de trem até Modena e de lá pegar um ônibus pra ir até Maranello. Só que Modena é uma cidade relativamente pequena, onde quase ninguém fala inglês. Obviamente que a essa altura do campeonato eu jã dominava quase que completamente o sistema de trens da Itãlia. Ja com os ônibus era outra história.

Saí da estação e fui caminhando até o terminal de ônibus. Uns 15 minutos. Como a moça que vendia o bilhete não sabia falar inglês eu fui obrigado a gastar todo o meu italiano com ela. Cheguei na boca do caixa e falei "MARANELLO!".

Depois foi a vez de descobrir qual ônibus tinha de pegar. Mais uma vez fui obrigado a me comunicar apenas no estranho dialeto italiano: "Ferrari?", eu perguntava pros motoristas até algum deles falar que sim.

Mais meia horinha de ônibus e cheguei até Maranello. Pouco depois de entrar na cidade, o ônibus passou por cima de uma viaduto e eu pude avistar o incrível circuito de Fiorano, onde a Ferrari testa seus carros. "Uau, depois do museu vou em Fiorano!", pensei.

Mas naquele momento eu tinha preocupações maiores: descobrir onde descer pra ir até o tal Museu. Escaneei o ônibus atrás de pessoas que se parecessem minimamente com turistas. Porque obviamente que se houvesse turistas no ônibus, também estariam indo pro museu. "Ah, Clayton, mas por que em vez de ficar tendo todo esse trabalho você nâo simplesmente pede ajuda pro motorista?", perguntaria você. "JAMAIS!", eu respondo. Perguntar caminho obviamente vai contra todos os meus principios. Prefiro passar a noite na rua a perguntar como chegar em algum lugar!

Bom, Só que todo mundo parecia estar indo trabalhar. Ninguém aparentava ser turista indo pro Museu. Mas eis que de repente dois sujeitos com aparência latina se levantam e dão sinal pro ônibus parar. "Ah, esses caras devem manjar, segui-los-ei".

Claro! Óbvio! Evidente! Ululante! Seguir turista não tem como dar certo. É um cego guiando outro cego. Mas notei que não achar o tal museu era algo meio comum. Toda hora parava um carro do meu lado perguntando como chegar até ele.

Considerando que todo mundo só vai naquela cidade por causa do Museu, imaginei que deveria ter placas em toda esquina indicando o caminho. Mas obviamente eles querem que você fique dando voltas pela cidade sendo tentado a comprar os milhões de protudos ferrarísticos expostos em todo canto. E nisso dá pra notar uma coisa: A cidade vive e respira ferrari.

Uma rua típica de Maranello

Mas a cidade era pequena e acabei achando a galeria. E a visita valeu cada centavinho. Principalmente porque lá estava os carros do Prost, do Mansell e do Berger.


O carro do Prost

Detalhe do carro com o nome dele...


... e a assinatura

Claro que na fase em que eu mais gostei de F-1 na vida (aquela em que eu estava descobrindo esporte), eu odiava Prost e Mansell. Afinal, em toda corrida eles ganhavam do Senna. Mas por conta disso esses caras acabaram assumindo um status mítico do meu imaginário. Um posto que nem Schumacher e seus sete títulos conseguiu alcançar. E ver os carros deles ali foi como ser arremessado sem escalas de volta à infância

Portanto posso dizer que ir até a Galeria Ferrari foi de arrepiar.

Depois da galeria tentei ir no famoso restaurante "Il Cavallino", mas estava fechado por férias. Então fui tentar observar algo do circuito de Fiorano.

Claro que era tudo cercado de mato para que ninguém pudesse espionar os testes. Portanto não dava pra ver nada. Já estava quase achando que tinha perdido meu tempo, mas em vez de desistir fiquei andando em volta do circuito até achar algum lugar que pudesse me ofercer alguma visibilidade.

Foi entâo que mal pude acreditar no que meus olhos viram:  um BURACO na cerca, que me permitiu finalmente chegar mais perto ver o circuito. Mas infelizmente nâo estava tendo nenhum teste :(



O tal buraco na grade

Cadê os carros???

PARTE 2

Todo mochilâo que eu faço destroi alguma parte do meu corpo. No primeiro foi meu pé, que ficou de tal maneira que eu nao podia andar sem mancar. Só que agora, já calejado, não cometi os mesmos erros e meu pé ficou inteiro. O mesmo nâo pode ser dito sobre o meu joelho direito...

As subidas intermináveis das montanhas de Cinqueterre acabaram com minhas articulações. E pra piorar toda nova cidade que eu ia ficava no topo de colinas. Como já mencionei aqui, até subir e descer dos trens era um sacrificio. Por isso foi com imenso alívio que encontrei em Bolonha e Maranello cidades planas, onde eu podia caminhar sem parecer ter 200 anos de idade.

Mas claro que mesmo quando tudo parecia bem eu tinha que inventar algo pra estragar tudo...

Voltei pra Bolonha à tarde e decidi que queria ir até o santuário da Madonna de San Luca. E sabe onde fica esse santuário??? Sim, amigos. No ALTO de uma colina de 300 METROS. Mas nâo é só isso. Pra chegar lá é preciso percorrer o maior dos pórticos de Bolonha. São 3.5km de escadas e rampas até o santuário. O pórtico é formado por 666 (!!) arcos, todos numerados para que a gente tenha a noção exata da agonia... você olha o número e vê que está no cento e alguma coisa.... sobe, sobe, sobe, e quando olha de novo percebe que nâo chegou nem no 200...

Subi aquilo tudo prometendo pra mim mesmo que meu próximo mochilão seria num SPA...

Brincadeira, foi legal demais ;)



Subi tudo correndo enquanto cantarolava "GONNA FLY NOW"

Não chega NUNCA

O santuário

Dentro da basílica que fica lá em cima

GALERIA DE FOTOS



Mais cenas comuns de Maranello



Carro e apetrechos do Leão





O museu é cheio de bugigangas ferrarísticas

Carro do Massa

E do Alonso



A basílica da Madonna de San Luca


O mais longo dos pórticos bolonheses


Dia 8 - Bolonha

Mais uma cidade italiana pro currículo: Bolonha. Sempre tentando cumprir o objetivo de ir em todos os lugares da Itália que deram nome a comidas.

Saí da estação para alegremente atravessar a rua. Agora não ia mais ficar feito um idiota esperando os carros. Tinha aprendido a lição. Mas bastou por o pé no asfalto para que um carro passasse com tudo quase arrancando minha perna.

"Deve ser estrangeiro que não sabe as regras daqui", pensei.

Sem desanimar fui tentar mais uma vez e quase fui atropelado DE NOVO.

Não é possível! Como eu vou adivinhar agora o jeito certo de atravessar a rua em cada cidade?? Que pelo menos coloquem um aviso na saída da estação. Algo do tipo "nesta cidade os carros não param pra você atravessar".

Depois de muito observar finalmente dominei a dificílima técnica de atravessar ruas em Bolonha e consegui andar um pouco pela cidade. E por incrível que pareça, a primeira coisa que me chamou a atenção não foram os pórticos, mas sim as bicicletas.


Bikes pra tudo quanto é lado

Cada grade, cada poste, cade pedaço de qualquer coisa tem uma bicicleta amarrada. É impressionante como andam de bicicleta nessa cidade. Além disso tem estacionamento com centenas de bicicletas, algumas tão velhas e enferrujadas que parecem estar ali há anos

Espero que o dono não pegue tétano...

Mar de bicicletas


Ah, os pórticos, claro. São bacanas. Acho que a principal vantagem deles é permitir que se ande pelo centro de bolonha inteira e não tomar chuva ou sol.


Vendedor de guarda-chuva iria à falência em Bolonha

Fora essas coisas a cidade estava bem decrépita. Depois de ter me acostumado com toda a agitação de turistas das outras cidades, parecia que agora estava numa cidade fantasma. Lugares que deveriam estar cheios de turistas quase totalmente vazios. Pra todo lado portas fechadas, pichação e sujeira. Além disso o Duomo estava em reforma e não dava pra ver nada.


Claro, é só por uns tapumes com a foto da fachada que ninguém vai notar a diferença

Cracolândia à bolonhesa

Bom, acho que escolhi a época errada pra ir em Bolonha...
 
GALERIA DE FOTOS

A foto clássica

O World Trade Center bolonhês

A arca com os restos mortais de são Domenico, o fundador da ordem dos domenicanos. Trocentos artistas trabalharam nela, inclusive Michelângelo

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Dia 7 - Siena

Eu tinha planejado algo muito legal pra fazer no sétimo dia... mas não deu certo. Fiquei chateado e tal... mas é isso aí...

ob-la-di, ob-la-da, life goes on, bra...

Pelo menos agora tenho um motivo pra voltar pra Itália (bom, além da Sicília, Veneza, ir de novo em Roma, Lucca, etc. etc.)

Então tirei o dia pra passear em Siena. O bacana é que mesmo no calor de 200 graus a cidade fica sempre gelada. Suas ruas estreitas com prédios ee paredes grossas e úmidas geram sombras sempre fresquinhas e agradáveis.

A cidade estava a poucos dias do grandiosíssimo Palio de Siena (ê Fiat, quanta criatividade...) O Palio de Siena é uma corrida de cavalos ao redor da Piazza del Campo. Acontece duas vezes por ano e deixa toda a cidade em polvorosa, com bandeiras pra tudo quanto é lado. Pra entender a rivalidade do negócio é só imaginar como seria uma final de Copa do Mundo entre Brasil e Argentina. Só que com os argentinos sendo seus vizinhos da frente.

Mas é à noite que fica ainda mais gostoso caminhar por Siena. Parece um imenso shopping center, só que a céu aberto. Galerias, lojas, restaurantes, sorveterias e gente andando pelos corredores estreitos da cidade até altas horas. Tudo isso com uma absoluta sensação de segurança. Enfim, toda a parte boa de um shopping somado ao charme medieval da cidade.

E o que é mais legal: em quantos lugares do mundo a gente encontra um quarteto de cordas de bermudão e chinelos tocando Eine kleine Nachtmusik no meio da rua?

E com participação especial da Ana Maria Braga...


GALERIA DE FOTOS


Lembra que eu falei pra prestar atenção no chão? Pois bem, quando acordei pela manhã ele misteriosamente estava todo coberto de terra para o palio



As bandeiras


 Ah, quem dera tivesse uma loja assim perto de casa... queijos, salames, presuntos e azeites de tudo quanto é tipo


O duomo




À tardinha e durante a noite




Dia 6 - Siena

Aqui vai uma verdade sobre os trens na Itália: eles SEMPRE atrasam... a menos que você chegue à estação dois minutos dopois do horário...

Trem perdido, roteiro do dia indo praticamente pro beleléu... nada a fazer a não ser esperar pelo próximo. E enquanto esperava se aproximam dois policiais armados.

- documento

Lá vem dor de cabeça...

- Aqui está, sr. policial italiano

Entreguei o passaporte pro cara. Ele olha página por página e quando pensei que ia me devolver, tira uma caderneta do bolso e começa a fazer diversas anotações

What the hell? Pra que isso agora, pensei.

E por mais que você saiba (ou pelo menos ache) que está tudo certo, acaba batendo uma ansiedade pra que aquilo termine logo... mas não terminava. O cara virou a página e continuou anotando. Enquanto isso me lembrei da tal da questura... eu tinha lido em algum lugar que é necessário informar a questura italiana sempre que você for ficar mais de dez dias no país...

putz, como eu fui esquecer disso? Será que ele vai encher o saco por causa desse troço? Damm it, não devia ter empurrado com a barriga! pensei.

E enquanto eu fazia minhas suposições malucas e paranóicas de que sairia dali algemado, ele acabava praticamente de copiar meu passaporte todo. Então finalmente me devolveu e agradeceu. Pensei em perguntar o porquê daquela checagem, Se era algo rotineiro ou se eu tinha cara de suspeito. Mas em vez de perguntar preferi observar se eles iam pedir o documento pra mais alguém na estação.

Não pediram ¬¬

Finalmente peguei o trem rumo a Siena. Estava indo de volta pra Toscana, minha região preferida da Itália.

Lá ia seguindo o trem, todo bacanão, pelas belas paisagens da Toscana quando de repente se aproxima de uma estação chamada "Castellina in Chianti-Monteriggioni"

Me deu um frio na espinha na hora. Eu SEMPRE quis conhecer o castelo de Monteriggioni e não fazia ideia de que o trem ia passar por ali.

Eis o lugar onde quero ir. Peguei a foto do site do castelo. Por razões óbvias ainda não posso fazer imagens aéreas

Eu tinha 25 segundos pra tomar uma decisão antes do trem seguir viagem: descer ali com toda a mochilona nas costas, em um lugar que não conheço, sem nenhum planejamento e conhecer Monteriggioni. Ou deixar pra lá e seguir viagem.

20 segundos...

- Cara, eu disse pra mim mesmo, é sua chance de conhecer Monteriggioni. Desce do trem e vai logo pra lá

15 segundos...

- Anda, meu! Desce logo do trem que já vai fechar a porta... larga a mão de ser bundão.

10 segundos...  

Foi então que num raríssimo momento de sensatez eu disse pra mim mesmo: "Você está louco??? Vai descer numa cidade que você não conhece com 15kg de bagagem nas costas? Torrar debaixo desse sol por sabe-se lá quanto tempo? E Além disso você nem tem ideia do caminho pro castelo de Monteriggioni. Tá na cara que vai se perder... esquece essa história!

5 segundos...

- Ah, que se dane... já tô aqui mesmo...

Peguei minhas coisas e pulei do trem pra tentar achar o caminho desconhecido que me levaria a Monteriggioni.

- Putz, que merda que eu fiz???? Melhor voltar correndo pro trem!

Tarde demais, a porta se fechou e o trem foi-se embora me largando sozinho ali no meio do desconhecido.

Eu devia dar mais ouvidos ao meu lado sensato...

Saí da estação e descobri que estava em uma cidadezinha chamada Castellina Scalo. Tão pequena que em 10 minutos eu já tinha saído dela. Achei uma placa que indicava Monterrigioni e segui pela rodovia.

A tal cidadezinha microscópica

Sim. Pela rodovia. Lá estava eu, igual um burro de carga, sob o sol da Toscana*, com 500kg nas costas e andando por uma autoestrada com carros a 90km por hora zumbindo no meu ouvido.  Mas o bacana é que a paisagem toscana sempre faz valer a pena.


Andei vários quilômetros sem nem sinal do castelo. E claro, quanto mais eu andava, mais longe ficava pra voltar. Já estava achando que tinha feito a maior besteira do mundo e pensei em desistir. Mas depois de andar mais um pouco avistei uma colina e os muros de Monterrigone lá em cima.


As torres do castelo láááá longe, no alto da colina. E também um pedaço da rodovia.

Vocês não imaginam como estava quente. O sol é daqueles que arde. Subi toda a colina e quando atravessei as portas da cidade estava encharcado de suor. E provavelmente sem alguns dos meu preciosos kg.


O finalzinho da estrada, quase chegando na porta do castelo

Mas valeu a pena. Monterrigione é super bacanuda. Toda a colina é repleta de vinhas e lá de cima tem-se uma visão muito bacana da paisagem toscana.



Dentro dos muros



  
As vinhas, onde são produzidas uvas pro vinho Chianti






Depois de descansar um pouco na cidade. Fiz todo o caminho de volta até a estação. Cheguei lá exatamente um minuto antes do trem que sairia pra Siena.

Incrível! Absolutamente incrível!

Eu não estava acreditando. Tinha saído completamente do roteiro, me metido em um lugar totalmente desconhecido, sem nenhum planejamento e tinha dado tudo certo?? Algo não estava fazendo sentido...

Mas tudo bem. Lá estava eu no trem pra Siena. De volta ao roteiro. Tudo planejado, mapas preparados, etc. O pior tinha ficado pra trás

Desci na estação e fui atravessar a rua. Esperei um tempão e nada de parar de passar carro. Nisso vem uma moça de trás e simplesmente se joga no meio da avenida. Os carros, claro, param pra ela passar, assim como em Roma. Se todas as cidades fossem assim meus problemas com travessia de rua estaria solucionado...

Fui caminhando até o centro e... putz... o que esse povo tem contra construir cidades em lugares baixos? Por que tem que ser tudo em cima das colinas? Com a articulação do joelho direito ainda toda ferrada por causa das trilhas de 5terre, não foi fácil escalar o morro até o centro histórico de Siena.

Trezentas mil ruazinhas estreitas depois, cheguei à piazza principal da cidade. "Bom, agora é só procurar o hotel e me livrar logo dessas tralhas". Teoricamente o hotel deveria ficar perto da piazza. Mas sem brincadeira nenhuma, Siena parece um labirinto de ruas estreitas e construções medievais. Quando passei pela quinta vez em frente à mesma loja percebi que estava perdido.

Peraí.. eu desço num lugar desconhecido, ando kms por uma rodovia maluca e tudo dá certo? E agora que estou de volta ao planejado me perco? Qual o sentido disso?

Ahá, mas por essa ninguém esperava. Calejado que sou, dessa vez eu trouxe os mapas da Itália no meu GPS. Dei dois tapinhas nas minhas costas, me cumprimentando pela genialidade. "Quando teve a fila pra distribuir inteligência eu cheguei cedo e ainda entrei duas vezes", pensei. Com o celular na mão apertei alegremente o botao pra ligar o GPS que me mostraria com perfeição o caminho a seguir.

A tela ficou acesa por cinco segundos. Apareceu o aviso de bateria fraca e desligou tudo na minha cara. Tentei religar mas já era... a bateria tinha ido pro saco.

Tentar achar o caminho sozinho era inutil. Não ia adiantar nada ficar andando à esmo por aquele labirinto com 300kg de tralhas nas costas. Ainda mais depois de ter ido a pé pra Monterigione. Ah... uma detalhezinho. Eram 18:30. A recepção do hotel fechava às 19hs. Se eu nao achasse a dita cuja em meia hora corria o risco de passar a noite na rua.

Deixa eu explicar. Na realidade não é bem um hotel. Esse pessoal tem uma série de quartos em diversos prédios espalhados pelo centro de Siena. Então você chega até essa recepção central e de lá eles te encaminham para algum desses quartos. Como é um esquema muito caseiro, não tem estrutura pra recepção 24hs.

Mas pra que me desesperar, correto? Sentei na piazza del Campo, coloquei minha mochila no chão e fiquei observando o lugar enquanto esperava alguma ideia genial surgir na minha mente. E que lugar bacana. Famílias, casais, gente jovem, velha, cachorros e tudo quanto é ser vivo aproveitando o fim de tarde ali na piazza.

Claro! O notebook!

Lá estava a ideia pela qual eu esperava.

Tirei ele da mochila e praticamente montei um escritório a céu aberto em plena Piazza del Campo. Usei o cabo USB do celular para liga-lo ao notebook e voila! Funcionou que é uma beleza.



A piazza onde montei meu nucleo de operações via satélite. Ahh, por favor reparem no chão (a parte cinza)

Cheguei à recepção 19:30. Olhei pela porta de vidro e tinha uma mulher falando no telefone enquanto duas crianças corriam ao redor dela. Ela fez sinal pra eu entrar. Inutilmente mandava as crianças ficarem quietas ao mesmo tempo em que tentava fazer a pessoa que estava do outro lado da linha desligar.

- ok...
- si...
- ok...
- si... si...

Duzentos milhões de monosílabos depois ela conseguiu desligar o telefone e deu um suspiro de alívio. Eu também. Aparentemente fui salvo por seja lá quem for aquele chato que estava do outro lado da linha e nao deixou a mulher ir embora no horário.

Check in feito. Ela pegou as duas crianças e foi me levar até onde seria o meu quarto. Entrou por uma ruazinha, virou em outra e foi se embrenhando pelo meio do labiritno que é Siena.

Logo eu, o maior especialista em se perder do mundo...

Quando chegou lá pela quinta rua eu já não tinha mais a menor ideia de como sair dali. E pior. Se saísse, jamais ia conseguir voltar. Estava pensando até em deixar predegulhos pra marcar o caminho quando finalmente ela chega até o prédio. Olho pro lado e vejo uma ruazinha reta que leva direto pra Piazza del Campo.

Respirei aliviado. Nem mesmo eu ia conseguir me perder ali...

*Prometo que é a últinma vez que uso essa expressão =P