Dia 5 - Pisa

Quando acordei na manha do quinto dia nao podia fazer ideia de que 10 horas depois estaria perdido em uma cidade fantasma. Posso dizer com certeza que foi o dia mais complicado ate aqui.

Eu tinha montado base em Lucca, entao teria que ir até Pisa e voltar no mesmo dia. Meu ingresso para a torre ja tinha sido comprado com antecedencia. As visitas sao feitas em grupo e duram meia hora. A minha estava agendada para as 9:30, mas eu tinha que chegar pelo menos meia hora antes pra trocar o meu comprovante pelo ingresso de verdade.

Mas, obviamente, acordei atrasado. Tive que sair correndo e nao tinha o direito de errar o caminho ou perderia o trem das 7:55, e o proximo soh sairia as 9, hora em que eu ja deveria estar na torre. Me arrumei e sai correndo, mas ja comecei me perdendo dentro do proprio albergue. Desci e subi varias vezes a escada sem encontrar a saida. Perfeito! O tempo passando e eu nao conseguia nem sair da droga do hotel...

Como ainda nao consigo andar direito, foi bem complicado correr. Apertei o passo o mais que pude e fui pra estacao. Cheguei às 7:50, eu ainda tinha 5 minutos. Na bilheteria, 6 pessoas à minha frente. Achei que nao fosse problema, 5 minutos era tempo razoavel pra atender todo mundo. Nao foi. Bom, sabe aquelas pessoas que ficam atravancando a fila? Aquelas que demoram um tempão pra ser atendidas, nao entendem nada do que o atendente fala, fazem perguntas estupidas e levam horar pra tirar o dinheiro do bolso, como se o mundo fosse soh delas? Pois eh, tinha uma dessas pessoas na minha frente. O tempo passava e nada daquele moleque terminar de ser atendido. Nisso eu ja estava totalmente agoniado e com a certeza de que tinha jogado fora o dinheiro do ingresso. Quando finalmente chegou a minha vez, comprei o bilhete e corri pra plataforma. Mas nao havia trem nenhum. No meu desespero nao percebi que o marcador acusava que o trem estava 10 minutos atrasado. Me desesperei a toa..

Na parte de cima da foto, o horario do trem. Na parte de baixo, a hora em que cheguei na plataforma. Se o trem estivesse no horário, eu o teria perdido por 2 minutos.

Ói o trem

Como eu estava muito preocupado com o horario, esqueci de validar o bilhete. Esse eh um detalhe fundamental. Na italia nao existe catraca, voce pode entrar no trem mesmo sem comprar bilhete. Durante a viagem entao vem o inspetor e confere se esta tudo certo. Só que alem de ter o bilhete em maos, é necessario valida-lo na maquineta, para que ele nao seja usado duas vezes. Nao validar o bilhete eh mesma coisa que nao ter bilhete, e se o inspetor pega, a multa eh terrivelmente alta.

Beleza, entrei no trem, e só la no meio do caminho me lembro de que nao tinha validado. Droga! Eu ja tinha ficado agoniado por causa do horario e agora ainda tinha mais uma razao pra me desesperar. Se o inspetor me pegasse eram 50 euros de multa.

Passei o trajeto todo torcendo pra que ele nao passasse e foi com alivio que ouvi o alto falante anunciar que tinhamos chegado a Pisa. Dessa vez eu tinha escapado.

Confesso que fui meio displicente ao fazer o roteiro de Pisa. Sempre ouvi dizer que a torre era a unica coisa util daquela cidade e pensava que haveria uma estrada de tijolos dourados me guiando ate a torre. Mas tive que desbravar o caminho na raça, nem placa indicativa tinha. Um sujeito estranho e mal encarado tentou me abordar, mas usei meu jogo de corpo pra dar uma finta nele e continuar meu caminho. Ate que finalmente avistei a torre.

Podem me chamar de fresco, deslumbrado, maricas, etc. Mas ver ao vivo algo que sempre ocupou seu imaginario desde a infancia eh uma experiencia emocionante. E ela é BEM mais inclinada do que eu imaginava

Voces todos estavam errados! A Torre Eiffel fica em Buenos Aires, como atesta a foto acima

Subir ate la em cima eh devastador para um coracao sedentario, mas eh divertido. O corpo tomba de um lado pro outro e nao eh nada dificil despencar escada abaixo, levando consigo todo mundo que vier atras.

as escadas da torre

eu la em cima

Caminhei mais um pouco pela cidade e realmente nao vi muita coisa alem da torre. A cidade eh bacana e tal, mas eu ja estava anestesiado pelo impacto visual de Lucca.

Voltei pra torre pra me despedir, dei a ultima olhada e fiquei me perguntando quando teria a oportunidade de ve-la de novo. Logo descobri a resposta: em 52 minutos. Quando eu estava chegando perto da estacao lembrei do postal que a Ju me pediu e tive que voltar. Comprei o postal, revi a torre e agora sim me despedi.

É agora que começa a parte terrivel. Comprei meu bilhete de volta e dessa vez nao esqueci de validar. Eu estava achando que poderia viajar tranquilamente sem medo do inspetor. Bom, pelo menos era pra ter sido assim. Eu sei que todo mundo vai rir da minha cara, mas eu estava tao cansado que acabei pegando no sono dentro do trem. Acordei a tempo de ver a plaquinha que indicava a estacao de Lucca ficando pra tras. Quando voltei meus olhos pro interior do trem eis que vinha o inspetor de passagens conferindo o bilhete de todo mundo. Gelei na hora! Eu tinha comprado e validado uma passagem ate Lucca. Meu bilhete nao valia pra continuar viajando depois daquilo. Ou seja, eu estava, de novo, sem bilhete. So que agora o inspetor estava bem ali na minha frente e queria ver minha passagem. Quando ele notou que o bilhete soh valia ate Lucca seu semblante mudou na hora de "simpatico" para "what the hell???" Tentei explicar que eu tinha dormido, mas ele nao falava ingles. Depois de muita conversa, gestos e cara feia (por parte dele), acho que consegui me fazer entender. Ele disse algo como "proximo" e "ten minutes", e me mandou descer.

O trem parou na proxima cidade e desci pra esperar o "proximo" trem que viria em "ten minutes" no sentido contrario pra me levar de volta a Lucca. Na porta ao lado, um sujeito estranho que tinha sido pego sem bilhete era expulso enquanto gritava "bastardo" e sacudia o punho em direcao ao trem. Esse cara depois sumiu e foi pra nao sei onde. Fiquei absolutamente sozinho.

Essa estacao em que eu desci se chamava San Pietro a Vico e ficava absolutamente no meio do nada. Parecia cidade fantasma de filme de faroeste norte-americano. Nao tinha bilheteria, funcionario, nao tinha nada. E nao havia nenhuma alma viva num raio de kms. O silencio só era quebrado pelo som de insetos no meio do mato.

a estacao fantasma

Esperei varios "ten minutes" e nada de aparecer trem. Nisso o sujeito mal encarado volta, olha pra mim e diz "bastardo", se referindo ao inspetor e provavelmente achando que eu tambem tinha sido expulso por malandragem. Ele comecou a falar diversas coisas incompreensivels em italiano, mas logo viu que eu nao entendia nada.

Achei muito sui generis ficar ali sozinho na estacao fantasma com o sujeito estranho que anda clandestinamnente nos trens, mas resolvi voltar a pé. O trem nao ia passar nunca e o cara ja tinha percebido que eu era um turista perdido e, portanto, uma presa facil.

O caminho mais logico para voltar para Lucca era seguir pela rodovia paralela à linha do trem.

Lucca é por ali, ó

Eu ate cogitei seguir pela propria linha, mas nao havia espaco pra me desviar. Eh claro que desde que assisti "Conta Comigo", desviar de um trem se tornou uma das minhas metas. Mas ali nao havia pra onde me desviar.
Segui rumo a rodovia e notei que nao havia acostamento. Eu tinha que andar em cima da estrada, com carros passando a 100km/h bem rente ao meu corpinho.

carros a 100km/h e nada de acostamento

Ah, a estrada nem duplicada era, tinha apenas uma faixa pra ir e outra pra voltar.

Soh precisei andar 200m pela estrada pra perceber que aquilo era suicidio. logicamente todos os motoristas se perguntavam quem era aquele doido mancando no meio dos carros a 100 por hora. Como eu tinha prometido a muita gente que eu nao morreria durante a viagem, resolvi procurar outro caminho. Fui caminhando pra fora da rodovia pra ver se achava uma estrada vicinal que me levasse ate Lucca. Nisso ja ia começar a escurecer e fiquei realmente preocupado. Eu estava literalmente com o pé na estrada, perdido no meio do nada e se nao conseguisse achar o caminho enquanto era dia a coisa ia ficar feia.


Quando ja estava quase desistindo e voltando pra rodovia, avistei uma estradinha q ia pra direcao que eu queria. Abro um parentese aqui pra um fato bizarro: qdo eu sai de Lucca ja nao aguentava mais andar, e agora estava em uma situacao em teria que andar o dobro do que ja tinha andado ate ali. Mas tudo bem. Peguei a estradinha e caminhei por horas sem encontrar Lucca. 'Eu só posso estar no caminho errado, pensei.

Antes que perguntem, eu tenho GPS, mas ele era inutil sem os mapas do local.

Foi entao que tive um estalo. Abri o msn na esperança de encontrar alguem online. Soh tinha o meu amigo Dog, entao teria que ser ele mesmo. Mandei abrir o Google Earth, passei minhas coordenadas GPS e pedi pra ele traçar uma rota até Lucca e me dizer se eu estava longe.

Depois de ficar de gracinha me fazendo achar que eu tinha ido pro lado errado, ele resolveu me ajudar em uma operacao digna de Jack Bauer e Chloe, do 24hs.
Eu estava bem mais perto do que imaginava. Seguindo as indicacoes dele logo avistei o muro. Um alento pro meu pobre coracao assustado. Mas nao pras minhas pernas. Ainda faltava uma hora de caminhada ate o hotel!

Dia 4 - Lucca

Ainda em Roma, acordei bem cedo e tive uma surpresa: ninguem tinha dormido no meu quarto. tive uma noite de hotel por preço de albergue. Fui ate a estaçao comprar as passagens pra Lucca e voltei pra pagar o moço do hostel e pegar minhas coisas.

Quando cheguei, minha mochilona nao estava mais no quarto. O moço tinha levado pra sala dele, com medo de eu fugir sem pagar, obviamente.
- Trouxe aqui pra liberar espaço pros proximos hospedes ^^

sei...

Tudo bem, paguei, botei o mega mochilao nas costas e fui pra estacao. Pé na estrada de novo, hora de desbravar a Italia de Trem.

Desbravando a Itália de trem

LUCCA


Posso dizer que Lucca é a cidade mais bacana e diferente que ja vi, sem exageros. Ela é toda murada, resquicio da era medieval. Pra entrar na cidade é preciso passar por uma das portas sob os muros. E depois de entrar tem-se a sensação de estar em uma cidade que parou no tempo.

os muros dao a volta na cidade toda

Entrada do anfiteatro de Lucca

Jardins sobre o muro

Deus do céu, me apaixonei por essa cidade

É uma cidade extremamente agradavel pra caminhar, ou simplesmente sentar à tardinha no gramado sobre os muros enquanto o sol se poe. Se eu tivesse que escolher uma cidade pra morar, Lucca fatalmente estaria entre as primeiras opcoes. Deve ser um otimo lugar pra criar os filhos.

Lucca deve ser a cidade do cs_italy, no Counter Strike

Bom, nao fiz muita coisa nesse dia. Cheguei em Lucca, deixei as malas no hostel e fiquei caminhando pela cidade.

Dias 2 e 3 - Roma

Esse albergue em que fiquei em Roma nao tem café da manhã. Entao acordei cedo e fui ao mercado comprar algo pra acompanhar as bolachas que tinha trazido do Brasil. Paguei 80 centavos numa garrafa de meio litro de leite e tomei meu café da manhã na piazza Navona.

Olha o que tinha no mercado: Nutella 5kg! Meu mais novo sonho de consumo

Alias, esqueci de falar uma coisa. Como meu orçamento é limitadissimo, estabeleci uma meta de gastar no maximo 10 euros por dia com comida. Claro que um dia ou outro eu posso ate fazer uma extravagancia, mas tem que ser algo bem pensado. Eu achava que ia ser bem dificil cumprir a meta, mas logo no primeiro dia ja achei pizza ou espaquete, mais a bebida, por 6 euros.

Macarrao a carbonara + coca-cola com o panteao ao fundo: 8 euros do mais puro colesterol

Quero tambem deixar os meus agradecimentos a todos que me assustaram dizendo que refrigerante na Europa é carissimo e que uma latinha custava 6 euros. Como não sou chegado em bebida alcoolica, achei que ia ter que beber só agua todos os dias pra nao ir à falencia. Era alarme falso. Nos supermercados de Roma achei coca cola por 66 centavos.

Nesse segundo dia foi a vez de ir na Piazza Spagna e na Fonte Trevi. Só pra deixar claro: eu tinha feito um roteiro perfeito, com mapas, indicacoes, etc. E ele funcionou perfeitamente. Eu andava pelas ruas de Roma como se estivesse no meu proprio bairro. Mas chegou uma hora em que cansei de seguir o roteiro e resolvi andar à esmo e me perder propositadamente. Se eu nao tivesse feito isso nunca teria encontrado a Porta Pinciana e a Vila Borghesi.

Piazza Spagna, onde a gurizada gosta de ficar sentada. A vista é bem legal lá de cima. Tomei meu café da tarde aí

Fontana di Trevi

Porta Pinciana

A Vila Borghesi eh demais. Um imenso oasis verde no meio da loucura de roma. E como o clima estava propicio acabei deitando na grama e confesso que foi extremamente dificil criar coragem pra sair dali depois.

eu na vila borghese

Castelo de Santo Ângelo (spoiler: onde a anti matéria tava escondida!)

Depois chegou a hora de ir ao Vaticano. Nada demais aqui. O moço da segurança nao deixou ninguem entrar pq estava tendo missa do papa (outra). Neste momento o estado dos meus pés estava realmente lastimavel, eu nao aguentava dar mais nem um passo sequer sem que isso resultasse em muita dor. Mas nunca que esse pequeno problema ia me fazer esbanjar 1 euro no bilhete de metro. Eu ia voltar pro albergue a pé.

papa no telao; eu nao pude entrar

A guarda suiça e seu discreto uniforme

eu e meu radiante sorriso na praça sao pedro

Me pus a andar, manquejando, de volta pra minha cama. Foi entao que eu, achando que ja sabia tudo sobre Roma, cometi mais um erro: guardei o mapa na mochila imaginando que saberia chegar ao hotel. Bom, nem preciso dizer que me perdi feio. O trajeto que deveria demorar 40 minutos ja levava 3 horas quando finalmente consegui me localizar. Avistei o Coliseu, meu ponto de referencia pra chegar no hostel. Quase me arrastando fui me dirigindo pelo caminho do albergue. Foi entao que notei uma coisa estranha: tinha uma MULTIDAO fazendo aquele mesmo caminho em direçao ao Coliseu.

multidao indo pro Coliseu

Estranhei o porquê de tanta gente estar indo ao Coliseu àquela hora da noite. Um forte cheiro de vela impregnou o ar. Ouvi uma voz familiar e logo percebi do que se tratava. Era o papa. Sim, ele mesmo. De novo! Estava no Coliseu para a procissao da Sexta-Feira Santa. Eu tinha sido miseravelmente derrotado. Um senhor com mais de 3x a minha idade tinha saído antes de mim do Vaticano e chegado bem antes ao Coliseu. Tentei fotografar, mas daquela distancia, e à noite, era impossivel fazer o papa ficar nitido na foto. Deixei pra la e fui em direcao ao hotel. Minha primeira passagem por Roma estava chegando ao fim


Fotos que o povo pede

Coloco abaixo fotos de coisas curiosas ou que me pediram pra tirar

Quem diria, o Gallo tem uma boutique em Roma

O Rocky pediu pra eu fotografar um garanhao italiano. Só achei esse.

Uma ferrari!

um natal no Rio rende ate filme italiano

A viagem, primeiro dia em Roma e impressões iniciais

Peço desculpas a quem veio até aqui nesses últimos dias e não encontrou post nenhum. Mas deixo claro que a culpa nao foi totalmente minha. Neste momento eu mal consigo ficar de pé. Caminhar até uma lan house, entao, é uma tarefa quase impossivel.
Bom, vou explicar usando um exemplo prático: pegue uma pessoa totalmente sedentaria, deixe-a sem dormir por 40 horas e depois faça com que ela ande cerca de 150km em cinco dias. Ah, não podemos esquecer também do tênis assassino, capaz de criar bolhas enormes nos pés. Pronto. Dessa mistura sairá um ser humano totalmente destroçado. E foi exatamente o que aconteceu comigo. Exigi do meu velho corpo umas 10x mais do que ele poderia suportar e agora veio a cobrança.
Mas tudo bem... O fato do meu pé esquerdo quase explodir de dor toda vez que eu o coloco no chão não vai me impedir de continuar andando. Mesmo pq valeu a pena.
Ah, não liguem se faltar acentos e desculpem pelo post longo. Mas tenho crédito pq é apenas o primeiro certo?

PRIMEIRAS IMPRESSOES

Roma é maluca. Totalmente maluca. Tem o trânsito mais caótico que já vi na vida. Eu não teria a menor condição de dirigir nesse covil de doidos. O povo acha mais fácil apertar a buzina que pisar no freio. Sinceramente não sei como não presenciei nenhuma batida, pq parecia que o tempo todo elas estavam na iminência de acontecer.
E se a vida do motorista é tão dificil, o mesmo não pode se dizer sobre a vida do pedestre. Basta por o pé na rua para que automaticamente os carros parem pra você atravessar. Parece mágica.

É extremamente dificil se acostumar com isso. Cheguei a ficar um tempão esperando a oportunidade de atravessar e sempre aparecia um italiano que simplesmente se jogava na frente dos carros sem nem olhar pros lados e atravessava calmamente enquanto os veiculos esperavam. Isso mesmo. Eu disse calmamente. Nada de pressa ou medo de tomar buzinada. Aliás, se vc estiver em Roma e ver alguem correndo pra atravessar a rua pode ter certeza de que é estrangeiro. É batata.

Povo atravessando calmamente a rua. Os carros que esperem.

Mas o que mais me chamou a atenção aqui foi o fato das pizzas serem individuais. É a coisa mais genial que já vi na vida. Por exemplo: no Brasil, se você vai a uma pizzaria com mais três pessoas, provavelmente vai pedir uma pizza e cada um come dois pedaços, certo? Na Itália, não. Aqui cada um come uma pizza inteira. É o fim das brigas na hora de escolher o sabor. Eu, por exemplo, adoro aquelas pizzas que ninguem gosta, como pizza de alho, pizzas com bacon, cheias de cebola e outras bizarrices. Mas claro que nunca me deixam pedir essas e eu tenho que me resignar para que possa haver consenso. É sempre assim, pra pedir uma pizza que agrade a todos do grupo (ou que não desagrade ninguem), quase sempre é necessário optar por um sabor mais sem graça, como aquelas que só tem queijo, e assim não magoar o paladar de ninguém. Na Itália não existe esse problema. Cada um pede sua própria pizza e todos são livres pra gostar da pizza bizarra que quiser. É sensacional.

Nunca mais houve brigas entre este casal depois que cada um passou a comer sua própria pizza

Uma pizza de quatro queijos só pra mim. Deixei as bizarrices pra mais tarde.

Agora chega de devaneios. Vou contar as coisas que fiz e vi nos últimos dias.

DIAS 0 e 1 - SP-Roma

Graças a uma combinação totalmente esdruxula de voos e conexões, cheguei a Roma exatamente 30 horas depois de decolar do Brasil. 30 horas nas quais não consegui dormir nem por um segundo (um pouco por causa da ansiedade. Sempre custo a dormir na véspera de eventos importantes. Mas a poltrona terrível do avião tb ajudou bastante). A primeira conexão foi em houston, nos EUA, onde tive que enfrentar meu primeiro agente de imigração da viagem. Aliás, confesso que estava um pouco receoso quanto à imigração. As diversas histórias de gente sendo barrada me deixaram um pouco melindrado. Mas na Itália o fulano nem disse 'oi'. Aliás, nem na minha cara ele olhou. Pegou meu passaporte, procurou uma folha livre, carimbou, me devolveu e olhou pra fila esperando pelo proximo. Nos EUA a coisa não estava tão simples assim. Os caras ficavam em média cinco minutos com cada pessoa e sempre pediam vários documentos. Cheguei a ver uma moça sair acompanhada por um guarda até a salinha terrivel. Quando chegou minha vez já fui com as passagens na mão. Antes que eu pudesse falar alguma coisa ele olhou bem pra minha cara e disse 'hi'
- 'hi', respondi
- 'onde vais?' (pronto, tecla SAP ligada)
- 'estou em trânsito, tenho um voo de conexão pra Roma', respondi já mostrando as passagens
-'seu voo é direto?'
-'não', respondi enquanto ele lia nas passagens que ainda haveria outra conexão em NY.
O papel que eles dão pergunta se vc esta levando comida. Pus la que sim e ele tb perguntou o que era. 'bolachas', respondi. Sorte que eles não quiseram verificar, pq eu tb estava levando miojo e tinha esquecido de declarar. Mas foi melhor assim. Nao sei como se diz 'miojo' em ingles :p
O cara me deu permissao pra ficar seis meses nos EUA. Quanto desperdicio... Eu só ia ficar seis horas. E se eu soubesse que seria tão fácil assim, não teria me preocupado a toa.
Depois de passar pela imigração fui esperar o voo. Mas eu ainda tinha que experimentar mais da paranoia norte americana.
A cada cinco minutos alguem informava pelo alto falante que a Homeland Security tinha elevado o nivel de alerta pra 'orange', o segundo mais alto. Esse nivel foi usado pouquissima vezes e significa que um ataque terrorista pode acontecer nos proximos segundos. A voz tambem mandava denunciar quaquer comportamento suspeito.
Deixei minha câmera preparada pra fotografar o atentado e ganhar um Premio Pulitzer póstumo quando achassem mnha maquina em meio aos escombros, mas nao aconteceu nada.

Tudo tranquilo com os outros voos. Por volta das 6:30 o piloto anunciou que em breve estariamos pousando em Roma. Esse tipo de anúncio, aliás, sempre dá aquela sensação gostosa de expectativa quando estamos chegando em um lugar pela primeira vez. Pousamos as 7:30 e peguei o trem que leva à cidade. Quando desci percebi que tinha cometido meu primeiro erro. A mochila estava terrivelmente pesada. Se eu não havia percebido isso em SP, tinha ficado claro agora que eu estava cansado e teria que andar até o albergue.
Aliás, um adendo: Eu tinha lido horrores sobre a regiao em que fica o albergue. Cheguei la imaginando encontrar a filial da cracolandia. Sim, é bem decrépito, mas nada que um frequentador do centro de SP nao esteja acostumado. O hotel era mais feio ainda, mas a unica coisa que importava pra mim era me livrar logo da mochila.

O albergue: coisa fina

Deixei a mochila e dei inicio àquele que seria meu segundo erro: caminhar por 12 horas seguidas. Erro que eu viria a repetir nos dias seguintes.

O COLISEU

O Coliseu fica a uns 10min a pé do hotel. E estava lotado. A fila era terrivelmente imensa e assustadora.

A fila terrível

Teoricamente eu deveria estar tranquilo, porque eu tinha comprado meu ingresso antecipadamente pela internet e nao precisaria pegar fila. Digo teoricamente pq deu pau na hora de imprimir o ingresso. Só consegui imprimir o email de confirmacao, o que nao valia nada. Eu precisava estar com o ingresso impresso.
Mas nao desisti, fui até a moça e falei: ô, moça, me ajuda!
-'parla italiano?', disse ela
Respondi que não. Percebi que ela nao falava ingles. Entreguei meu email de confirmacao impresso, ela examinou e me mostrou a parte onde estava escrito, em italiano, que o ingresso deveria ser impresso em casa. Neste momento utilizei toda minha habildade em artes cenicas e coloquei em meu rosto uma expressao que dizia o seguinte: 'olha, moça, nao entendi nada do que voce disse, mas vou ficar aqui enchendo o saco ate vc me dar um ingresso'. Acho que ela entendeu o recado, pq foi la pra dentro e cinco minutos depois voltou com ele na mão.

Eu e o coliseu

Coliseu visto de dentro, com as galerias que ficavam sob o "palco"

Depois do coliseu, fui ate o Foro Romano, lugar onde habitam as ruinas da sede do império que um dia governou o mundo. A visita termina no carcere mamertino, prisão onde, segundo a tradição, Paulo e Pedro ficaram presos.

Carcere mamertino.
Um Arco romano. Sabe-se lá quantos milhares de anos esse troço tem.

Ruínas, ruínas e ruínasMais ruínas

Depois fui caminhar pelos principais pontos turisticos. Fui na Piazza Venezia, Piazza Navona e vários outros. Fui tambem na sorveteria que o Alencar e a Denise me inidicaram. Mas nao tomei sorvete pq nao entendi nada. O povo teoricamente estava com fichas, que ao serem entregues ao atendendente milagrosamente materializavam sorvetes com dezenas de bolas e coberturas. Mas ainda vou voltar lá. Se alguem que lê isso tem contato com eles por favor pede pra me explicarem como funciona. Ah, antes que eu me esqueça, anta é a vovozinha :p

A Piazza Venezia

Piazza Navona

Antes de encerrar o dia eu tinha que ir até a catedral de São João Latrão. Para quem não sabe, uma catedral é o assento do bispo. E a catedral de São João Latrão, especificamente, é a catedral do bispo de Roma, ou seja, o papa. Em outras palavras é a igreja mais importante do catolicismo, hierarquicamente falando. Mais até que a Basilica de S. Pedro. Por isso Latrão é chamada de 'a mãe de todas as igrejas'.
Bom, fui lá com o proposito de ver a tradicional missa da quinta-feira santa que o papa celebra todos os anos.
Cheguei em cima da hora sem saber bem onde estava chegando. Vejo uma multidao posta em fila ao lado de uma barreira de contenção e penso se tratar da fila pra entrar. Quando estou me aproximando, aquele povo todo começa a aplaudir. Olho pro lado e avisto varios batedores escoltando um carro preto com a bandeira do Vaticano. Da janela semi-aberta um velhinho acena pra galera. Era o papa.
Legal. Fui a Roma e vi o papa. Como eu nao esperava por isso nao estava com a camera pronta. So consegui fotografar o carro depois que o papa ja tinha saido do meu campo de visao.

O papa ta naquele carro preto

Fui pra catedral. Na entrada, guardas com detectores de metal fuçavam nas pessoas atras de coisas que poderiam ser mortiferas para o papa, mas se esqueceram de mim. Tambem nao ia fazer muita diferença. Lá dentro estava abarrotado de gente. A multidao e os enormes pilares bloqueavam totalmente o campo de visao. Fotografei a hora em que o papa entrou e o resultado é esse abaixo:

Esse de amarelo deve ser o papa

Eu já não aguentava mais ficar em pé, abri caminho em meio ao povo e voltei pro albergue. Depois de 50 horas eu finalmente estava em uma cama de novo.

Mais tarde posto sobre o segundo e terceiro dia.

saudacoes

Pessoal, eu to vivo. Soh nao consegui postar pq nenhuma lan house me
deuxou descarregar as fotos. Mas assim q der conto tudo o q aconteceus
nesses dias.
Inte

Começa hoje

Muita gente sugeriu que eu criasse um blog pra mandar notícias enquanto estivesse viajando. Pois ei-lo.

Vou fazer o possível pra tentar atualiza-lo diariamente com textos e fotos dos lugares por onde eu passar. O objetivo, na realidade, é usar este espaço para que eu possa manter um registro da viagem, entâo não reparem muito nas bobagens que eu escrever =P

O voo está previsto pra sair de Guarulhos lá pelas 21hs. Como vou fazer trocentas conexôes, só chego em Roma na quinta feira (9.abr). Então não esperem nenhum post novo até lá.

Bom, por enquanto é isso. Melhor eu ir agora porque ainda faltam bilhões de coisas pra arrumar =)

Ah, e não reparem muito nos erros ou na qualidade das fotos, quase sempre vou ter que atualizar o blog pelo celular =)

É isso aí, espero que pelo menos meus amigos e familiares leiam isso aqui =P