terça-feira, 5 de maio de 2009

Dia 7 - San Vincenzo

Esqueçam minhas lamurias do post de Pisa. Hoje foi infinitamente pior. O engraçado eh que o começo do dia não me dava a menor ideia do quão terrivel ele ficaria antes de terminar.
Começou assim: Acordei em Lucca e tinha chegado a hora de mudar de cidade de novo, hora de ir pro litoral!! Uhuuu, solzão brilhando, ia ser uma beleza! O descanso do dia anterior tinha surtido efeito e eu nao mancava mais. Nem mesmo o fato de eu ter perdido o trem e ter ficado duas horas a toa esperando o próximo tinha estragado meu humor. Mas beleza, peguei o seguinte e já comecei a sentir o climão do litoral. O trem vai costeando o mar e a vista eh bem legal. Duas horas depois, cheguei em San Vincenzo.

Paisagem da janela do trem

Ah, uma informacao importante: pela primeira e unica vez em toda a viagem, eu iria ficar em um HOTEL. Nada de albergue com dezenas de pessoas estranhas no mesmo quarto. Eu teria meus próprios aposentos. Na realidade eu me dei esse luxo por pura falta de opção, pq nao achei albergue nenhum no litoral. Mas aquela altura era um luxo muito bem vindo. Deixei as coisas no hotel e fui passear. Mas dessa vez eu quis variar um pouco...

Era hora de destruir musculos novos! Eu ainda nao estava contente de ter destruido todos os musculos responsaveis por andar, agora era hora de destruir também aqueles responsaveis por pedalar. Aluguei uma bibcileta e sai pedalando pelo litoral toscano.

Eu não sei andar muito bem de bicicleta. Não sei nem como usar as marchas dela. Escolhi uma que parecia mais confortavel e nao mexi mais.

Eu pedalando a bike pela estrada


Pedalei 15km ate chegar ao golfo de Baratti, um lugar bem bacanão, onde os ricaços vêm passar o verão. Mas o legal é que é uma região bem grande, com vários sitios pra camping e coisas do gênero, então também tem espaço pra galera menos endinheirada.

Próximo ao golfo está a montanha onde habitam as ruinas de Populonia, uma antiga cidade da civilizacao etrusca. Lá no alto há uma torre construída pelos etruscos para vigiar a costa, o que deveria proporcionar uma vista sensacional. Peguei a bike e comecei a subir. Duas pedaladas depois descobri que nao ia conseguir nunca. Desci e subi empurrando.

O golfo de Baratti, onde os ricaços deixam seus iates no verão.



E que subida... mas enquanto estava com a lingua de fora empurrando a bike morro acima, meu otimismo caracteristico me lembrou de que a volta seria imensamente mais facil. Se eu tivesse uma maquina do tempo, voltaria para aquele instante, apontaria o dedo pra cara do meu eu do passado e riria sarcasticamente.

Eu calmamente guiando a bicicleta morro acima rumo a Populonia

Momento em que eu finalmente chego à acrópole etrusca .



La em cima a vista era mesmo sensacional. Visitei o museu, descobri algumas coisas sobre o povo etrusco e decidi que era hora de voltar. Foi ai que começou o martirio.

Tudo isso aí tem milhares de anos


O mar tirreno visto lá de cima


A porta que dá acesso à cidade dos etruscos, povo que rivaliza com os fenicios pra ver quem aparece em mais samba-enredos






Eu lá em cima

Detalhe da torre




Vou direto ao ponto: Peguei a bike e comecei a pedalar rumo à descida genial que me levaria de volta até embaixo sem nenhum esforço. Logo após as primeiras pedaladas escutei um estalo vindo da roda traseira da bicileta. Continuei pedalando e notei que o pedal tinha ficado mole e a bicicleta nem se movia. Qualquer energumeno que um dia tenha visto uma bicicleta na vida perceberia que a corrente tinha escapado.

Fui pra fora da estrada e tentei de todo jeito colocar aquilo de volta. Eu tinha certeza absoluta de que qualquer anta que entendesse um minimo de bicileta conseguiria arrumar aquilo em dois segundos. Mas anta, no meu caso, é elogio. Fiquei um tempao la e nada. E depois de tentar fazer uma gambiarra que por MUITO POUCO não custou meu dedo, resolvi desistir. Pra piorar nenhum ciclistia se dignou a parar pra me ajudar e eu estava preto de tanta graxa.

Eu percebi que mesmo que ficasse dez anos ali nao iria conseguir arrumar aquele troço. Nao havia saida, eu teria que empurrar a bicicleta de volta ate a cidade

Nao preciso dizer a cretinice que foi aquilo. Eu tinha que descer aquele morro todo e depois andar mais 15km. 15km!!! 15km empurrando uma bicicleta. E todo sujo de graxa ainda por cima! Lembra quando eu disse que sempre que me esforçava pra nao precisar andar, algo acontecia e me obrigava a andar mais ainda? então...

Antes da metade do caminho eu já tinha comecado a mancar de novo. Eu via milhoes de ciclistas passando por mim a mil por hora e meu humor ia ficando cada vez pior. Eu andava, andava, andava e nao chegava nunca. Se andar 15km ja eh dificil, imagine andar 15km empurrando uma bicicleta, mancando e com o pé doendo a cada passo.

Empurrando a bicicleta pela estrada infinita

Eh impossivel transmitir aqui a sensacao do quanto eu andei. Parecia que nao ia chegar nunca. Mas cheguei. Umas 5 horas depois, totalmente moído e acabado.

Horas depois...


Bom. Foi basicamente isso. Podem rir da minha cara. Eu deixo.

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